Matéria publicada no jornal Diário do Nordeste em 30/05/2010
Aqui mesmo, no Estado do Ceará, é possível conhecer e se surpreender com locais onde a civilização humana pouco interferiu. E o melhor, na mesma região, a depender da época do ano, a paisagem pode mudar completamente, revelando outras facetas.
Ver, ouvir, sentir a natureza é um privilégio cada vez mais raro para quem vive nos grandes centros urbanos, privados de experiências simples, como testemunhar a trajetória de uma estrela cadente, completamente ofuscada pelas luzes das grandes cidades.
Não é necessário, porém, ir muito longe para reencontrar a natureza da qual esquecemos fazer parte. Com disposição, certo espírito de aventura, resistência física e paciência, pode-se alcançar a recompensa de belíssimas visões saindo dos convencionais roteiros de praia, serra e sertão.
E tem mais: se a viagem for feita em pelo menos dois períodos distintos (chuvoso e seco), mais surpresas esses novos roteiros podem proporcionar aos viajantes.
Com bagagem de aventureiros, todos os equipamentos necessários e um veículo 4x4, formamos uma equipe, junto com profissionais da TV Diário e saímos de Fortaleza, em um dia de julho, logo após o período chuvoso, decididos a fazer novas aproximações com o mundo natural que, felizmente, ainda nos rodeia.
Como garantia, o biólogo Thieres Pinto sugeriu um roteiro básico e nos orientou sobre o universo da flora e fauna. Um dos itens indispensáveis, o GPS, traduzido para o português claro, Sistema de Posicionamento Global, nos permitiu visitar exatamente os mesmos pontos em duas viagens distintas, n a estação chuvosa e no período seco.
De antemão fomos alertados de que não haveria muita regalia ou conforto. Afinal, o que interessava era descobrir, conhecer, registrar locais de grande beleza, pouco conhecidos, que ainda apresentam espécies da flora e fauna nativas e guardam características ímpares.
Nesse roteiro, foi possível descobrir, entre outras coisas, que o Ceará abriga não apenas espécies típicas da Caatinga, do Litoral e da Mata Atlântica, mas também algumas do Cerrado e até mesmo da Amazônia, o que pode comprovar uma teoria de que um dia as matas Atlântica e Amazônica foram uma só e que, em algum momento, recuaram, fazendo surgir a Caatinga.
Essa aventura começa no litoral e segue, em mais duas edições especiais a serem publicadas em 13 e 27 de junho, pelos caminhos dos sertões e das serras, totalizado 21 dias de viagem, em duas expedições distintas, em julho e em novembro e publicadas agora como sugestão para as suas férias.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Falar só de Caatinga é simplório
O Ceará está completamente inserido no bioma Caatinga, afirmação, apesar de correta, simplória, pois, o Estado se avizinha a áreas de Cerrado que se espalham ao longo do seu território em pequenos fragmentos. Além disso, nosso Estado localiza-se no ponto médio entre a Floresta Atlântica e a Amazônica, que também deixam marcas, principalmente em nossas Serras.
A maioria dos livros nos apresenta o Ceará como uma paisagem monótona, formada por rochas e cactos, porém a observação e aprendizado em campo apresentam outra realidade. Foi viajando que percebi o quanto suas paisagens são diversificadas. Temos diversos tipos de cerrados e caatingas, carrasco, florestas secas e úmidas em vários formatos e fisionomias. Cada um desses tipos de vegetação abriga fauna e paisagens típicas.
Junto com as singularidades da paisagem, da fauna e da flora, cada ambiente do Ceará também tem problemas específicos. Conhecê-los, mapeá-los e divulgá-los é um passo chave para conservar o que ainda nos resta de vida silvestre. Cada cidadão tem o dever de contribuir e muitos querem, porém poucos sabem como. Nisso, nossa contribuição é importante.
Thieres Pinto
Biólogo
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